sábado, 14 de março de 2015

É preciso se perder para se encontrar em Berlin, e tipo...Na vida.




Acabei de ler uma matéria num blog, sério foi há cinco minutos atrás, sobre viagens e como para viajar às vezes é preciso se perder e dessa forma se encontrar, e isso me fez pensar nessa vida de ir-indo pra longe e cada vez mais longe, e nunca ter uma "casa", e como essa jornada fez com que eu mesma tantas vezes ficasse completamente perdida, para me encontrar mais tarde numa versão melhorada de mim mesma.
A minha última lembrança de "lar", com o sentido e peso que a palavra tem para mim, é da casa que eu morava com os meus avós, onde passei a infância, comendo coração de galinha no churrasco de domingo, goiaba do pé e tomando chimarrão com pé de moleque. Nunca mais me senti em casa ou tive uma casa minha depois disso, quero dizer tive casa minha, mas não um lar.
Fui mudando de lugar pra lugar, cidade pra cidade, durei em São Paulo, aliás foi a cidade que mais durei, mas SP é que nem namorado inseguro, que te deixa neurótica, te sufoca, vai aos poucos te enchendo de medos e te tirando todas as liberdades e te transformando num alguém que não é você, cheia de certezas erradas e tão insegura quanto ele.
Berlin, é o oposto, cheguei aqui sem plano ou ideia, e meu coração foi arrebatado com a leveza que só ela tem. Me perdi tantas vezes aqui, e foi no auge da famosa "depressão de inverno" que  veio acompanhada da "crise do fim do primeiro ano" que eu achei que tinha me perdido de vez, quis ir embora. Quis voltar. Uma mulher de quase trinta anos querendo voltar para a barra da saia da mãe e fazer o quê, Cheesus?! ME. DIZ.
A primavera começa a se aproximar e agora parece que me perdi assim há anos atrás, tenho um emprego que me faz feliz, amigos que não estão de passagem, e um lar, uma WG no Castelo da Carlinha, com uma família de coração de alemãezinhos e um tcheco que também estão desprovidos de família de sangue por perto.
Se volto para o Brasil? Para visitar, claro! Tenho saudades de aiaimeldels, daquele tipo que só brasileiro sente, saudade louca, saudade avassaladora com gosto de pão-de-queijo e Toddynho. Para morar, ainda não, preciso curar a ressaca do meu divórcio com Sampa.
Mas como foi que no fundo do poço encontrei a luz e tudo se resolveu, você pergunta? Bom, primeiro que quando cê tá no fundo do poço, fio, a menos que você cave e termine de se enterrar o único jeito é ir pra cima, e segundo que como eu disse no início, assim como em viagens, na vida o melhor jeito de se encontrar é se perdendo. Aquele momento de fodeção total e completa, quando eu achei que estava toda cagada de maiô branco, fez com que eu olhasse para a minha redonda pessoa e não me reconhecesse mais, e isso me obrigou a me reinventar, arriscar em outras áreas, se as minhas expectativas para o que eu queria em um ano não foram satisfeitas, eu  crio novas ideias. As expectativas às vezes são como malas gigantes sem alça e sem rodinha que a gente carrega pela vida, e como o texto que me inspirou concluía, bagagem demais só atrabalha, mantenha tudo na vida leve, ter muitas expectativas sobre a vida que você deveria levar só vai te encher de frustrações e trazer problemas estomacais... Se for muito difícil se livrar delas completamente, pelo menos mantenha suas expectativas numa embalagem transparente com menos de 100 mls.
Mas e agora como tá seu relacionamento com Berlin, cê tá perguntando? Tá lindo, Berlin, não é só mais um Tinderelo na sua vida, é amor eterno amor verdadeiro, daquele que te deixa livre e você liga bêbada às cinco da manhã só pra dizer que ama. Berlin me deixou ser quem eu sou, e mesmo se algum dia eu deixar ela, ela nunca mais vai me deixar.


Liebe Grüße
Xu  
 


PS: Desculpem-me, eu sumi do blog, mas só porque eu andava me perdendo por aí, e agora que me achei, voltarei a escrever mais.

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